Regras de Alarmes nem sempre estão a seu favor
Se você já estudou ou trabalhou com Gráficos de Controle, com certeza já ouviu falar nas Regras de Alarmes aplicadas a eles não é mesmo?
As Regras de Alarmes aplicadas aos Gráficos de Controle atuam como indicadores de comportamentos pouco prováveis considerando que o processo esteja sob Controle Estatístico.
Como o Gráfico de Controle é a ferramenta que auxilia a evitar os erros do Tipo 1 e Tipo 2, as probabilidades de ocorrências dos mesmos podem ser compreendidas a partir das Regras de Alarme (relembre estes tipos de erros no post Identifique o momento certo de ajustar o processo).
As Regras consideram que a curva que descreve os pontos plotados se aproxima de uma distribuição normal, e com base nisso, as probabilidades da curva normal são extrapoladas para o Gráfico de Controle.
Traduzindo em palavras a imagem acima, temos que se um processo possui:
- média µ
- desvio padrão amostral σx
- limites de controle definidos como µ±3*σx
- e está sob controle estatístico
a probabilidade de uma medição aparecer fora dos limites de controle será de aproximadamente 0.27%, o que equivale a 1 amostra cair fora dos limites de controle a cada aproximadamente 370 amostras, mesmo não havendo nenhuma causa especial.
Por isso dizemos que um valor fora dos limites de controle é um forte indicativo da ocorrência de uma causa especial, já que 0,27% é uma probabilidade baixa (0,27% representa a probabilidade de um falso alarme).
Mas repare que usamos o termo “forte indicativo” em vez de afirmação!
Ponto acima ou abaixo dos limites de controle definitivamente é a regra que está na ponta de língua de quem trabalha com CEP, mas existem muitas outras regras que também auxiliam na identificação de processos que estejam sob a ação de uma causa especial.
Estas Regras foram originalmente codificadas e publicadas em 1956 por um comitê especializado da Companhia Western Eletronics, e desde então as mesmas vem sendo utilizadas nas práticas de monitoramento do processo. Abaixo segue um resumo das principais regras e possíveis causas.
- Regra 1: Probabilidade de 99,97% de uma causa especial estar atuando.
- Regra 2: O ponto ainda não está fora dos limites, mas a concentração de pontos começa a ficar longe da média, em uma área onde não deveriam ter muitos pontos, o que pode ser uma indicação de que a média mudou.
- Regra 3: Concentração de pontos em uma região de baixa probabilidade, podendo indicar também uma alteração na média.
- Regra 4: É a mesma probabilidade de se jogar uma moeda 8 vezes e as 8 vezes caírem cara.
- Regra 5: Provavelmente a média se manteve mas ocorreu uma diminuição na variabilidade do processo. É importante ver que, nestes casos de sequências grandes, é mais difícil de investigar pois a mudança do processo não ocorreu exatamente naquele momento, e sim lá atrás, onde começou a sequência.
- Regra 6: Pode indicar algum desgaste no processo ou alguma mudança nesse sentido.
- Regra 7: Quase 70% dos pontos deveriam estar na zona C. Muito provavelmente em uma situação como esta, pode-se estar misturando dados de dois processos como se fossem de um único processo, onde os processos apresentam médias diferentes.
- Regra 8 : Muito provavelmente também são dois processos misturados, porém com uma determinada diretriz no sentido de que a primeira amostra (por exemplo), é coletada do lado A, a segunda amostra do lado B, a terceira do lado A e assim por diante. Forçando essa tendência de subir e descer. Outra possibilidade de causa seria em função de ajustes no processo a cada medição (classificando uma interferência em vez de ajuste).
Se todos estas Regras auxiliam na identificação de causas especiais (principal objetivo do Gráfico de Controle), quanto mais regras ativadas, mais protegido estará o processo?
Faremos uma paralelo aqui antes de responder a esta pergunta.
Alarme de carro.
A função do alarme é obvia: avisar se alguém tentar abrir indevidamente o carro. Sendo assim, sempre que ouvimos um alarme sonando podemos afirmar que alguém está arrombando um carro? Felizmente não (com certeza você já ouviu algum alarme sonando em um estacionamento cheio de carros mas não viu nenhum carro sendo roubado não é mesmo?).
Esta situação é um exemplo bem simples de um falso alarme. E quanto mais alarmes forem colocados no carro, com certeza a chance de algum alarme disparar sem a presença real de uma violação irá aumentar.
Nesta situação, você pode até concluir e preferir assumir o risco de obter falsos alarmes para tentar garantir que será avisado quando o carro realmente for arrombado. Mas será que ao ouvir o alarme do carro você irá correndo ligar para a polícia ou irá calmamente pegar o controle remoto do carro e dirigir-se a ele pensando: “ai ai.. esse alarme disparando de novo…”
Esta mesma situação ocorre no Gráfico de Controle. Quanto mais Regras ativadas, maior a chance de ocorrer um falso alarme, ou seja, de ocorrer um alarme quando não existe nenhuma causa especial atuando.
LEMBRE-SE: A ocorrência de alarme no Gráfico de Controle se traduz em: Atenção! Pare o que está fazendo e verifique o processo pois existe uma grande chance de uma causa especial estar atuando!
Mas se a todo momento que ocorrer um Alarme o operador verificar o processo e nunca encontrar nada, chegará um momento em que o alarme vai perder a credibilidade, e quando realmente uma causa especial estiver atuando, alguém vai dizer: “ah, não é nada, esses alarmes aparecem toda hora mesmo”. E lá se vão milhares de reais em refugo e reprocesso…
Portanto, seja prudente ao ativar as Regras de Alarme, procure começar com o básico e utilizar a informação para construir conhecimento com relação ao comportamento do processo e assim obter confiança para agir em direção as ações de melhoria contínua!
Engenheira de Alimentos pela UFSC com certificação Green Belt. Trabalha na HarboR desde 2009 atuando na capacitação, implementação e suporte técnico na área de Controle Estatístico de Processo e Qualidade em diferentes áreas da indústria.
A regra 6 é cada vez MENOS utilizada. Todas as outras regras têm embasamento na teoria de probabilidade com a exceção da regra 6. A regra 6 reforça a presença de alarmes falsos e supera os benefícios que vem dos alarmes certos. A tendência criada por 6 pontos consecutivos não tem uma única probabilidade associada como as outras regras porque a localização dos 6 pontos não coincide com as áreas de probabilidades acima e abaixo da linha central. O Professor Wheeler fala sobre isso em vários artigos e livros. E desde que devem ser utilizadas poucas regras para evitar alarmes falsos, é melhor esquecer por completo a regra 6. Geralmente, as outras regras funcionam bem para assinalar uma tendência nas medições.
Muito interessante o seu comentário, prof. Samohyl! Concordamos com o seu ponto de vista, embora o que vemos no chão de fábrica hoje é que a regra 6 acaba sendo uma das mais usadas porque as pessoas acham ela mais fácil de entender ou de associar com alguma causa especial do tipo um desgaste de ferramenta…